Olavo Bilac | Laís Azevedo
Deus ao mundo deu a guerra,
A doença, a morte, as dores:
Mas, para alegrar a terra,
Basta haver-lhe dado as flores.
Umas, criadas com arte,
Outras, simples e modestas,
Há flores por toda parte:
Nos enterros e nas festas,
Nos jardins, nos cemitérios,
Nos pauis e nos pomares;
Sobre os jazigos funéreos,
Sobre os berços e os altares,
Reina a flor! pois qui a sorte
Que a flor a tudo presida,
E também enfeite a morte,
Assim como enfeita a vida.
Amai as flores, crianças!
Sois irmãs nos esplendores,
Porque há muitas semelhanças
Entre as crianças e as flores…

Olavo Bilac foi um dos maiores poetas brasileiros. Representante máximo do movimento Parnasiano, o autor escreveu poemas que priorizavam a forma, a objetividade e a clareza. Ademais, os poemas parnasianos aproximavam-se da poesia clássica feita na antiguidade greco-latina, muitos por exemplo valiam-se da ordem indireta para criar os versos. Como se sabe inverter a tradicional ordem sujeito, objeto e complemento, era algo comum no latim. A estética parnasianista pode ser considerada uma reação, na poesia, aos ditames do romantismo.
Em “As flores”, o poeta, valendo-se de cinco quadras e de versos formados por sete sílabas poéticas, mostra como a flor atravessa dois universos: o da alegria e o da tristeza. A partir desses elementos, o sujeito lírico vai desdobrando outras características que as flores possuem e outros espaços que elas ocupam dentro dos referidos universos. Dessa maneira, tem-se, por exemplo, características que se opõem umas às outras. Na primeira estrofe, “A doença, a morte, as dores” obstando a alegria que as flores proporcionam na terra. Na quadra subsequente, o poeta destaca os enterros (tristeza) e as festas (alegria). A estrofe três possui também a ideia de oposição, assim há os jazigos (morte) o berço (nascimento) e os altares (por meio do casamento poder-se gerar uma nova vida).
A flor, para o sujeito lírico, está em todos momentos da vida, seja de maneira simbólica ou de maneira física. Em outras palavras, alegria e tristeza atravessam quaisquer existências.
Nos últimos versos, o poeta tece uma relação entre as flores e as crianças, posto que ambas trazem, pelo menos no imaginário e na cultura ocidental, a candura.

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