(Deverá
“clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos
textos)
A história dos
magos que foram a Belém adorar o menino fica para muita gente apenas por
aspectos folclóricos sem interesse. As pessoas dizem que eram três reis que
foram montados em camelos a Belém adorar o menino, que eram três e um deles era
negro. Que se chamavam Melchior, Gaspar e Baltazar - mas se nós olharmos para o
evangelho não vemos lá nada disso. Se queremos beneficiar com esta história o
que é importante é ver que há aqui duas espécies de
personagens.
Os magos eram
pagãos. As primeiras personagens são os que a nova versão da Bíblia chama sábios
e a versão antiga chama magos. Neste aspecto a versão moderna não foi muito
feliz, porque sábio é um homem que sabe muitas coisas ou que é muito sensato, e
não é disso que aqui se fala. Do que se fala é de homens, não se sabe quantos,
que praticam uma religião que consiste em observar os astros para conhecer o que
se vai passar. Viram uma estrela e chegaram à conclusão de que o Messias dos
judeus ia nascer. Mas eles não eram judeus, nem viviam segundo o ensino bíblico,
porque o ensino bíblico condena a astrologia, que é esse o nome da religião por
eles praticada. Eles são, de facto, astrólogos. A astrologia hoje está muito na
moda para certas pessoas, mas é preciso realçar que ler os horóscopos, consultar
um astró1ogo, acreditar nesses ensinos é uma coisa que a Bíblia reprova. É um
pecado à luz do ensino da Bíblia. Há dias liguei a televisão à tarde e estava a
ser apresentado um programa de Fátima Lopes que tinha como convidados várias
pessoas que se apresentavam como astrólogos ou de práticas da mesma área da
superstição que Deus condena.
Mas alguém dirá:
se Deus condena como é que aparecem aqui os astró1ogos a adorar Jesus e a serem
apresentados no fundo como heróis desta história?
A resposta é
fácil e basta nós olharmos para as outras personagens da história que lemos no
Evangelho.
Parte do Povo de
Deus
As outras
personagens são o rei Herodes, os principais dos sacerdotes e os doutores da
Lei. A primeira diferença que estas personagens fazem dos magos é que são judeus
e os magos são pagãos. Herodes, os chefes religiosos e os doutores da Lei
gostavam certamente de afirmar com orgulho que eram judeus, que pertenciam ao
Povo de Deus, estavam circuncidados, e tinham a Santa Escritura.
São portanto
aparentemente personagens que estão no ponto oposto aos magos. Os magos eram
pagãos, e os judeus desprezavam os pagãos; os magos consultam as estrelas e os
judeus desprezam as pessoas que praticam a astrologia. Os magos não são filhos
do Livro Santo, que é a Bíblia e Herodes até tem ao seu lado os famosos Doutores
da Lei.
Mas o que é que
aconteceu? O que aconteceu foi que os magos pagãos apesar dos erros da sua
religião estavam à procura de Jesus, e os judeus, que tinham tanto orgulho de
estarem no caminho certo, e que tinham a Bíblia, nada fizeram para irem adorar o
menino, embora soubessem, no caso dos Doutores da Lei, que ele nasceu em Belém e
Herodes quis mesmo usar esse conhecimento não para cooperar com Deus mas para
tentar matar o menino nascido em Belém.
Qual é então a
lição que tiramos desta passagem? É esta: há pessoas que, como os magos, estão
fora do Povo de Deus mas buscam a verdade e há pessoas que pertencem ao Povo de
Deus mas não a buscam. Podemos dizer de outra maneira: os magos eram pagãos mas
procuraram o Messias e Herodes, os sacerdotes e os doutores da Lei, que tinham a
Sagrada Escritura, e puderam saber onde é que o Messias ia nascer, esses não
foram a Belém e Herodes procurou mesmo matar o menino.
Há muitas
pessoas hoje que dizem: “Eu sou baptizado. Sou cristão”. E gabam-se muito disso,
e talvez mesmo critiquem aqueles que não entram numa igreja nem participam em
qualquer cerimónia religiosa - mas não basta a pessoa ser baptizada, nem basta
uma pessoa participar dos cultos. É preciso buscar também viver com sinceridade,
fazer a vontade de Deus.
Um escritor
disse um dia: “O desejo de ter a Bíblia do nosso lado é uma coisa, e o desejo
sincero de estarmos do lado da Bíblia é outra coisa muito diferente”.
Esta frase está
ilustrada na passagem de hoje. O rei Herodes e os doutores da Lei podiam dizer
aos magos: “Nós, como povo judeu, temos a Bíblia do nosso lado e não somos
pagãos como vocês”. Mas neste caso eram os magos é que estavam com sinceridade
do lado da Bíblia.
Há anos, numa
igreja, o pastor precisou de escolher uma jovem para ser professora de Escola
Dominical. Depois de observar bem as várias hipóteses escolheu uma que chamarei
Maria. Mas a mãe de outra disse ao pastor depois: “O pastor escolheu a Maria e
devia escolher era a minha filha. Porque a minha filha conhece a Bíblia na ponta
da língua, e a Maria nem metade sabe do que a minha filha conhece”. Então o
pastor respondeu: “É realmente importante saber a Bíblia na ponta de língua, mas
é ainda melhor fazer aquilo que a Bíblia ensina”. Esta frase do pastor é
desagradável, mas é uma verdade. Podemos saber muito da Bíblia como esses
doutores da Lei de que fala o Evangelho - mas não
cumpri-la.
Uma vez um velho
crente, homem idoso de condição simples, ia para o culto na sua igreja e
precisou de comprar uns comprimidos na farmácia. Levava a Bíblia debaixo do
braço e o farmacêutico quis troçar dele e disse: “Então o senhor acredita que
nesse livro Deus fala com o ser humano?” “Sim, é nisso que eu creio”. “Pois eu
não acredito nisso. Tenho lá uma Bíblia em casa mas não acredito que ela sirva
de alguma coisa”. O velho crente pagou os comprimidos que comprou e depois
apontando para um cartaz que estava na parede da farmácia disse: “Aquele cartaz
diz que o medicamento é indicado para a tosse não é? Mas olhe que eu estou farto
de ver o cartaz e continuo com tosse”. “Mas a tosse não passa olhando para o
cartaz! É preciso tomar o medicamento!” “Exactamente - disse o crente - também
não basta ter a Bíblia em casa e olhar para ela. Nem basta mesmo lê-la. É
preciso cumpri-la”.
Foi uma resposta
simples mas sábia. Também os doutores da Lei sabiam que o menino ia nascer em
Belém. Também Herodes sabia disso, mas não usaram bem o seu saber.
Uma das mais
belas parábolas que nosso Senhor contou, tem como herói um samaritano. Os
samaritanos eram desprezados pelos judeus porque não seguiam com rigor as
Escrituras. Aceitavam apenas os cinco primeiros livros da Bíblia e tinham
práticas religiosas que os judeus reprovavam. Mas ele é o herói da parábola
porque ajudou o seu próximo.
Quando nosso
Senhor agonizava na cruz, houve um homem que levantou a voz para dizer admirado,
referindo-se a Jesus: .... Este homem verdadeiramente é
o Filho de Deus. Mateus
27:54
A passagem do
Evangelho de hoje, não diz que a astrologia está certa, como a parábola do bom
samaritano não afirma que só o Pentateuco serve - mas todo o Novo Testamento diz
é que não basta dizer “Eu faço parte do Povo de Deus!” É preciso procurar com
sinceridade viver a fé.
Pastor da Igreja
Evangélica Presbiteriana de Portugal
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