27 junho 2011DILU MELO, A SANFONEIRA MARANHENSE
Quando cheguei a Teresina (PI) para estudar, em fevereiro de 1950, era grande a boba rivalidade entre os adolescentes maranhenses e piauienses, estes cheios de convencimento por morarem numa capital tão evoluída, enquanto que nós, os forasteiros, só tínhamos mesmo para mostrar, assim à mão, a cidade de Timom, do outro lado do Rio Parnaíba, à época um dos municípios mais atrasados do Brasil. Para chegar-se lá, só de canoa, em travessia muito perigosa.
Os teresinenses deitavam e rolavam com o progresso de sua terra: dois grandes cinemas, três imponentes igrejas, colégios, Faculdade de Direito, quartéis da Polícia e do Exército, Estação Ferroviária, Escola Industrial, calçamento de paralelepípedo, ponte metálica, seminário, convento, prédio com elevador. Nós, principalmente os sul-maranhenses, que nada tínhamos para contra-argumentar, valiamo-nos dos valores culturais de nosso Estado, citando seus famosos escritores e poetas, dentre eles: Aluízio de Azevedo, Artur de Azevedo, Gonçalves Dias, Viriato Correia, Graça Aranha, Coelho Neto, Humberto de Campos, Bandeira Tribuzi, Odilo Costa Filho, Susândrade, Raimundo Correia, Catulo da Paixão Cearense e, para arrolhar a boca de qualquer piauizeiro mais entusiasmado, nosso trunfo artístico maior: a compositora, cantora e sanfoneira Dilu Melo!
Num cenário em que todo o Brasil era dominado pelas vozes de Chico Alves, Emilinha Borba, Silvio Caldas, Marlene, Nélson Gonçalves, Aracy de Almeida, Orlando Silva, Vicente Celestino e outros, Dilu Melo disputava a fama e a popularidade pau a pau com eles. Tanto no rádio, quanto no mercado fonográfico.
Maria de Lourdes Argolo Oiver, a Dilu, nasceu em Viana (MA), a 25.09.1913, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) a 24.04.2000.
Criada em Porto Alegre (RS), aos 13 anos ganhou medalha de ouro num concurso de piano, atuando depois em algumas rádios.
Casou-se em 1930 com o Engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos.
Em 1938, foi par para o Rio de Janeiro (RJ), estreando na Rádio Cruzeiro do Sul e, no ano seguinte, compunha, em parceria com Ovídio Chaves, a toada Fiz a Cama na Varanda, por ela gravada em 1941, naContinental, com enorme sucesso.
Essa música foi relançada mais tarde por Inezita Barroso, Dóris Monteiro, Nara Leão, Cantores de Ébano, diversos conjuntos de rock e regravada na França, em versão.
Por influência de Antenógenes Silva, começou a tocar acordeom recebendo da imprensa a denominação deRainha do Acordeom, título a que logo abdicou, ao compor, tocar e cantar músicas que valorizavam o nome da sanfona, instrumento que ajudou a popularizar lançar, de sua autoria e de J. Portela, o xote Qual o Valor da Sanfona? e o baião Os Dez Mandamentos do Sanfoneiro.
Naquele tempo, o instrumento era chamado concertina ou acordeom. Seus grandes intérpretes da época, como Pedro Raimundo, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Antenógenes Silva, em Minas Gerais, Mário Mascarenhas e Sua Escola, em Minas Gerais e Adelaide Chiozzo, em São Paulo, tocavam acordeom. Contrapondo-se a eles, havia os sanfoneiros Luiz Gonzaga, seu irmão Luiz Gonzaga Sivuca – que, no início da carreira, era chamado de sanfonista – e Dilu Melo que, com Qual o Valor da Sanfona?, sacramentou esse nome por todo o Brasil.
Em 1944, registrou em disco a valsinha brejeira Lá na Serra, de Capiba, que se tornou sucesso nacional.
Pesquisadora do folclore brasileiro, além de pianista, violonista e harpista, viajou por todo o Brasil, divulgando seu repertório. Afastou-se da vida artística depois de 25 anos de carreira, mas ainda gravou um LP na Odeon e outro na Som.
Criou uma empresa teatral que produzia peças infantis e tornou-se professora na Escola de Música Sá Pereira, no Rio de Janeiro, ensinando dicção, impostação, danças folclóricas e História da Música.
São de sua autoria, além das já citadas, Dilu compôs Alecrim, toada gaúcha, Coco Babaçu, coco, Engenho D’Água, embolada, com S. Meira, Maravia, baião, com Jairo José, Saudades do Maranhão, valsa, com Roberto Martins, Telegrama, samba, Acalentando São Luís, toada, Meu Cariri, baião, Balada do Pranto e da Chuva, toada, com Rose Gama, Quando Durmo de Pé Sujo, arrasta-pé, Nas Águas do Mearim, toada, Viana, Cidade Magia, valsa, Coisas Erradas do Mundo, rojão, com Mardokeo Nacre, Tristeza de Juriti, toada, Cabocla, baião, com Argolio de Sá, Candelabro, valsa, Coisas do Rio Grande, polca, Meia Canha, polca, com Ovídio Chaves,Meninos dos Olhos Tristes, xote, com Ovídio Chaves, Meu Barraco, choro, Redinha de Algodão, baião, Sapo Cururu, baião, e Vida de Artista, samba-canção.
Dentre muitas músicas que gravou de autores diversos, destaca-se o motivo folclórico com arranjo de Antônio Almeida, Serenô – Serenô, eu caio, eu caio – valsinha brejeira que até hoje é cantada em todo o universo seresteiro.
Numa pequena amostra de seu trabalho, apresento-lhes o xote Qual o Valor da Sanfona?, gravado em 31.07.1948.
27 junho 2011 às 20:42
1 julho 2011 às 9:06
17 janeiro 2012 às 19:52
tempos de criancinha infantil la em Londrina (PR).
“quem toca sanfona ó dona, não precisa trabalhar”. Parece que na
época tambem haviam muitos “sanfoneiros” (no mau sentido)…
não consegui baixar o Clipe acima e na letra está faltando a ultima
estrofe (a do Maranhense);
18 janeiro 2012 às 7:06
19 janeiro 2012 às 16:26
e se puder enviar a musica (.mp3) e a letra completa eu
desde já agradeço;
Laercio;
19 janeiro 2012 às 17:04
Eu perguntei ao mineiro
Ele foi me respondendo
Depende do sanfoneiro
Se ele nasceu pra sanfona, ó dona
Vale um montão de dinheiro
Se ele nasceu pra sanfona, ó dona
Vale um montão de dinheiro
Dos lados do Quixadá
Depende só do valor
Que o sanfoneiro lhe dá
Quem sabe tocar sanfona, ó dona
Não precisa trabalhar
Quem sabe tocar sanfona, ó dona
Não precisa trabalhar
E vejo que tem razão
Não vale um mundo todo
Uma sanfona no galpão
Quando sopra o minuano, ó dona
Ela esquenta o coração
Quando sopra o minuano, ó dona
Ela esquenta o coração
Nascido lá em Codó
O amor e a sanfona
Quanto mais velho melhor
E quando toca, Dilu, minha dona
Vale mais que ouro em pó
E quando toca, Dilu, minha dona
Vale mais que ouro em pó
25 janeiro 2012 às 8:57
sonoras de “Qual o Valor que a Sanfona tem”. A versão em
ritmo de vaneirão é uma gravação mais moderna, portanto com
uma fidelidade bem maior que a original (78 rpm) e consegue
uma reprodução, ligada a um amplificador, muito melhor; a
cantora é a mesma (Dilu Mello) porem em outro tom.
executar na minha sanfona (Universal 120 baixos); espero
ter sucesso e, por enquanto, estou mui grato pelas informações.
25 janeiro 2012 às 10:23
Vá divulgando por aí essa grande conterrânea, que encheu de orgulho o corçã maranhense!
9 março 2012 às 10:49
Por favor, se puderem, cadastrem-se no site letras.com como fãs da Dilú. Seria uma forma de não deixar o nome dela no esquecimento. Esse site tem o cadastro (por ordem alfabética) de todos os artistas brasileiros. Basta procurá-la na letra D.
Em tempo: estamos preparando um caderno musical com 32 partituras da Dilú (entre seus maiores sucessos), patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão que terá lançamento ainda neste mês de março. A publicação objetiva a comemoração do centenário de nascimento da artista no próximo ano.
9 março 2012 às 11:49
9 março 2012 às 11:59
9 março 2012 às 12:04
O caderno terá distribuição gratuita e se destina às Escolas de Música, maestros, professores e estudantes de música.
Luiz Alexandre
9 março 2012 às 12:29
12 abril 2012 às 15:19
desejo adquirir o caderno de partituras dessa dilu mello.
12 abril 2012 às 15:59
29 maio 2012 às 21:18
O Caderno Musical da Dilú Mello com as partituras está pronto. Foi lançado no último 13 de abril, aqui em São Luís, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, com um show da cantora maranhense Fátima Passarinho, interpretando os antigos sucessos da Dilú. Fantástico!
Como faço para lhe enviar o caderno?
Sobre o endereço do site letras.com o endereço é esse mesmo. Tenta pelo google.
Saudações,
Luiz Alexandre