Junho, o mês das tradições: fogueiras, balões e quadrilhas
Leonardo Lessa
Ressurgem as tradições do mês de junho, o mês do folclore brasileiro. Em toda a parte ardem fogueiras, sobem balões, dançam-se quadrilhas, girândolas de fogos rebentam no ar. Fogueiras e balões, fogos de artifício, sortes, adivinhas, canjica, pamonha ou milho assado nas brasas da fogueira, a música ao som da viola ou da harmônica, indumentária colorida, danças regionais, cantorias e rodas, banhos-de-cheiro, parentesco, pássaros e bois nos terreiros, eis o complexo cultural que cerca o mês de junho. De Norte a Sul, o país é tomado de uma febril excitação. Permanece no ar estagnação de aromas. O povo se confraterniza. Sanfona, viola e quentão fazem furor nos terreiros. Enfim, a alegria se estampa em todas as fases.
Elementos folclóricos
Vários elementos folclóricos são próprios do mês de junho e nele se manifestam com todo o esplendor. Uma grande parte é exclusiva da época, não pode ser vista ou realizada noutra ocasião, como as fogueiras, os balões, as adivinhas matrimoniais, as sortes. Há também uma culinária típica e, em alguns Estados, como o Pará, influências ambientais acentuam a cor local: ali, na noite de São João, é hábito tomar banhos-de-cheiro, isto é, banhos da felicidade.
Os santos de junho
Todos os folguedos, brincadeiras, sortilégios do mês de junho se realizam em honra aos santos – Antônio, João e Pedro – festejados por todo o Brasil, por todo o mundo latino, na extensão de hábitos tradicionais, tornados indispensáveis à própria vida social. Junho é, pois, um mês barulhento, festivo. Dominado por esses celícolas bisonhos, em torno dos quais se arrumam esperanças, se externam alegrias. Não interessam à gente humilde e simples os atos religiosos, as trezenas nas igrejas, capelas e oratórios particulares. Os santos vivem no coração das massas, simbolizando uma concepção do mundo espiritual própria, bastante ampla, diluída na consciência coletiva, na plenitude mesmo de uma popularidade impagável e sonora. Entre os três santos de junho, o Batista é, sem dúvida, o mais querido e festejado. A noite de 23 de junho (véspera) é, portanto, a de maior esplendor. O padroeiro é lembrado sempre na música popular:
Capelinha de melão
É de São João
É de cravos e de rosas
É de manjericão
São João na roça
Os folguedos populares do mês de junho são tipicamente roceiros. Mas as tradições dos campos vêm até as cidades. Já se tornou hábito fazer-se, nos centros urbanos, o "São João na roça", com as indefectíveis quadrilhas e os casamentos. O povo se fantasia de caipira, com seus chapéus de palha ornados de fitas coloridas, roupa de chita estampada, pé no chão ou num rústico calçado, caricaturando, de certa forma, a gente simples da roça. O povo do Rio de Janeiro, desde os velhos tempos, tem se divertido no mês de junho com os folguedos próprios da época. O São João na roça, festejado outrora nas acolhedoras chácaras suburbanas, subiu os palcos populares, vulgarizando tipos e costumes roceiros. Essa reprodução é menos sátira, menos caricatura do que um quadro burlesco gostoso de se ver e que já se tornou tradicional nas festas urbanas. Temos, por conseguinte, este ano, como nos anteriores, inúmeros "arraiais", com as respectivas quadrilhas malamanhadas e "casamentos" caricatos.
(...)
Elementos folclóricos
Vários elementos folclóricos são próprios do mês de junho e nele se manifestam com todo o esplendor. Uma grande parte é exclusiva da época, não pode ser vista ou realizada noutra ocasião, como as fogueiras, os balões, as adivinhas matrimoniais, as sortes. Há também uma culinária típica e, em alguns Estados, como o Pará, influências ambientais acentuam a cor local: ali, na noite de São João, é hábito tomar banhos-de-cheiro, isto é, banhos da felicidade.
Os santos de junho
Todos os folguedos, brincadeiras, sortilégios do mês de junho se realizam em honra aos santos – Antônio, João e Pedro – festejados por todo o Brasil, por todo o mundo latino, na extensão de hábitos tradicionais, tornados indispensáveis à própria vida social. Junho é, pois, um mês barulhento, festivo. Dominado por esses celícolas bisonhos, em torno dos quais se arrumam esperanças, se externam alegrias. Não interessam à gente humilde e simples os atos religiosos, as trezenas nas igrejas, capelas e oratórios particulares. Os santos vivem no coração das massas, simbolizando uma concepção do mundo espiritual própria, bastante ampla, diluída na consciência coletiva, na plenitude mesmo de uma popularidade impagável e sonora. Entre os três santos de junho, o Batista é, sem dúvida, o mais querido e festejado. A noite de 23 de junho (véspera) é, portanto, a de maior esplendor. O padroeiro é lembrado sempre na música popular:
Capelinha de melão
É de São João
É de cravos e de rosas
É de manjericão
São João na roça
Os folguedos populares do mês de junho são tipicamente roceiros. Mas as tradições dos campos vêm até as cidades. Já se tornou hábito fazer-se, nos centros urbanos, o "São João na roça", com as indefectíveis quadrilhas e os casamentos. O povo se fantasia de caipira, com seus chapéus de palha ornados de fitas coloridas, roupa de chita estampada, pé no chão ou num rústico calçado, caricaturando, de certa forma, a gente simples da roça. O povo do Rio de Janeiro, desde os velhos tempos, tem se divertido no mês de junho com os folguedos próprios da época. O São João na roça, festejado outrora nas acolhedoras chácaras suburbanas, subiu os palcos populares, vulgarizando tipos e costumes roceiros. Essa reprodução é menos sátira, menos caricatura do que um quadro burlesco gostoso de se ver e que já se tornou tradicional nas festas urbanas. Temos, por conseguinte, este ano, como nos anteriores, inúmeros "arraiais", com as respectivas quadrilhas malamanhadas e "casamentos" caricatos.
(...)
(Lessa, Leonardo. "Junho, o mês das tradições: fogueiras, balões e quadrilhas". Leitura, ano 19, nº 48, junho de 1961)
Nenhum comentário:
Postar um comentário