Eu era muito pequeno, e tenho gravada na memória uma imagem de um piá, na frente do espelho, se admirando com uma vestimenta pra lá de diferente- pelo menos naquela cabecinha de criança. Demorou pouco até eu descobrir que se tratava da indumentária de um gaúcho.
Conseguir roupas de gaúcho- com todos os acessórios, incluindo a faca- para alguém tão diminuto não foi tarefa fácil!!!
O autor da façanha foi meu avô Camilo
Ele foi um tropeiro por profissão e também tocava gaita para distrair a peonada quando a tropa parava para pernoitar ou descansar. Percorreu de forma obstinada aquela Porto Alegre do inicio dos anos 60 atrás de todas as peças de roupa que tornariam seu primeiro e único neto homem um verdadeiro gaúcho! Foi um enorme sacrificio para alguém já velho e de corpo bastante cansado, mas ele conseguiu.
Quando reencontro aquela imagem do "eu piá" em algum canto da memória penso nas duas coisas que ele me deixou como herança: o amor pela música e pelas tradições do Rio Grande. A faquinha para churrasco também guardo até hoje.
Por isso, para mim, "tradição" tem a ver com carinho, amor e esse legado de meu Vô Camilo. Coisas para se guardar na alma e no coração.
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