Coliseu
Cem mil pupilas houve: — cem mil pupilas fitas na arena. Os olhos do Imperador, dos patrícios, dos soldados, da plebe.
Os olhos da mulher formosa que os poetas cantaram.
E os olhos da fera acossada, do lado oposto. Os olhos que ainda brilham fulvos, agora, na eternidade igual de todos.
Cem mil pupilas: — ilustres, insensatas, ferozes, melancólicas, vagas, severas, lânguidas . . . Cem mil pupilas vêem-se, na poeira da pedra deserta.
Entre corredores e escadas, o cavo abismo do úmido subsolo exala os soturnos prazeres da antiguidade:
Um vozeiro arcaico vem saindo da sombra, — ó duras vozes romanas! — um quente sangue vem golfando, — ó negro sangue das feras! um grande aroma cruel se arredonda nas curvas pedras. — Ó surdo nome trêmulo da morte!
(Não cairão jamais estas paredes, pregadas com este sangue e este rugido, a garra tensa, a goela arqueada em vácuo, as cordas do humano pasmo sobre o último estertor . . .)
Cem mil pupilas ficam aqui, pregadas nas pedras do tempo, manchadas de fogo e morte, no fim do dia trágico, depois daquela ávida e acesa coincidência quando convergiram nesta arena de angústia, que hoje é pó e silêncio, esboroada solidão.
(As pregas dos vestidos deslizaram, frágeis. E os sorrisos perderam-se, fúteis. Sobre o enorme espetáculo, que foi o aroma dos cosméticos?
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