- 19/09/2015 16h49
- 21/09/2015 11h32
- Fortaleza
Edwirges Nogueira - Correspondente da Agência Brasil
Misto de cultura popular e fé católica, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha, município do Sul cearense, entrou para a lista das celebrações registradas como patrimônio imaterial brasileiro. Unânime, a decisão foi anunciada semana passada pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O conselho analisou o pedido, feito em 2010 pela Prefeitura de Barbalha, por meio da Secretaria da Cultura e do Turismo, e apoiado pela Superintendência do Iphan no Ceará e por entidades culturais locais. Com a aprovação, a festa passa a integrar o Livro de Registro das Celebrações, que conta agora com nove bens registrados.
No Nordeste, a Festa do Pau da Bandeira está no mesmo nível do Bumba-Meu-Boi, no Maranhão, das festas de Sant'Ana de Caicó, no Rio Grande do Norte, e do Senhor Bom Jesus do Bonfim, na Bahia.
Secretário da Cultura e do Turismo de Barbalha, Antônio de Luna, informou que o reconhecimento da festa pelo Iphan é um marco para o fortalecimento da cultura da região e do Ceará.
“Acredito que teremos um novo olhar sobre a festa. Os detentores serão fortalecidos”, afirmou, referindo-se aos grupos de cultura popular, à Trezena de Santo Antônio (ciclo de orações com uma imagem peregrina do santo), à Procissão de Santo Antônio e ao Carregamento e Hasteamento do Pau da Bandeira.
Esse fortalecimento, segundo o secretário, deve ocorrer a partir da abertura de canais de diálogo com outras instituições, como universidades e com o próprio Ministério da Cultura, além da possibilidade de participar de editais dedicados a apoiar as celebrações registradas.
Os festejos de Santo Antônio remontam ao fim do século XVIII e se relacionam à própria origem da cidade de Barbalha, com a construção de uma capela em devoção ao santo. Atualmente, as celebrações duram 13 dias (de 31 de maio a 13 de junho, Dia de Santo Antônio) e tem como ponto alto o Carregamento e Hasteamento do Pau da Bandeira, sempre no domingo mais próximo do dia 31 de maio.
A tradição do Pau da Bandeira começou em 1928. Trata-se do tronco de uma árvore previamente escolhida, simbolizando a promessa e a devoção ao santo casamenteiro. Os carregadores formam uma espécie de irmandade e centenas de homens se revezam para levar o pau sobre os ombros por cerca de 6 quilômetros até a frente da Igreja Matriz de Barbalha, onde é hasteado com a bandeira de Santo Antônio, numa demonstração de força e fé.
Radialista e professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), João Hilário Coelho Correia participa da festa há 42 anos e já foi animador do Pau da Bandeira. Ele disse que, seja pela fé ou pela brincadeira, admira a diversidade envolvida na tradição.
“Na parte da frente ficam os mais novos e mais fortes. No meio, ficam alguns veteranos e, na parte de trás, vão até algumas crianças que estão se iniciando. Há uma fé religiosa em muitos e alguns vão pela animação, porque é uma festa que a população passa todo o ano falando”, acrescentou João Hilário.
Entre as mulheres, fica a expectativa de pegar no tronco para conseguir um casamento. Há, inclusive, segundo o professor, uma “solteirona” que, ironicamente, se propõe a dar dicas para as demais sobre como arrumar um marido.
O evento chega a reunir, segundo o secretário da Cultura e do Turismo, cerca de 300 mil pessoas na cidade e movimenta todo o triângulo Crajubar (união formada pelas cidades do Crato, de Juazeiro do Norte e de Barbalha).
Este ano, a árvore escolhida foi um angico de cerca de 22 metros e 2 toneladas, retirado sob supervisão de órgãos ambientais. A festa, no entanto, foi suspensa devido a morte acidental de Cícero Ricarte, um dos carregadores do Pau da Bandeira. Durante o percurso, o tronco caiu e o atingiu. No encontro que decidiu pelo reconhecimento da festa como patrimônio imaterial, o Iphan prestou homenagem ao carregador.
*Matéria alterada às 11h32 do dia 21/09/15 para corrigir informação. O professor João HilárioCoelho Correia é professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), e não da Federal do Cariri (UFCA).
Edição: Armando Cardoso
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