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Este Blog é para expor publicações periódicas que contribuam para desenvolver atividades artísticas culturais e recreativas dentro de uma postura construtiva através da Pedagogia da Animação, ampliando diversos conceitos da qualidade total nas áreas de Recreação, Folclore, Literatura e Música. Produzindo conhecimentos interdisciplinares no aprimoramento da cidadania.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

HOMENAGEM DE LAURO ARAÚJO MOTA (LAURINHO)


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16:52
Para Adalzira de Olivera
Querida Zazá, Estimado Raimundo Santiago de Oliveira ( Guerreiro )

Dia 8 de outubro de 2012 é uma data histórica para o município de Aiuaba. Querendo ou não, Raimundo Santiago de Oliveira entra para a história oficial do município  de Aiuaba como um dos pouco cidadãos que conseguiram chegar há um centenário de existência. No entanto, Seu Guerreiro, como é carinhosamente conhecido por todos, já é um personagem bem conhecido e sua história de vida já se constitui patrimônio imaterial de nosso município. Durante mais de três décadas foi funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e nesse período, em suas andanças pelas estradas poeirenta do interior cearense foi tecendo a história, entrelaçando os fios, alinhavado,  costurando os retalhos que junto construíram  sua história de vida e a história de tantas outras pessoa que também cruzaram seu caminho.
A história de um homem não é feita isoladamente, não se chega há 100 anos sozinho. Nesse jubileu festivo, a comemoração é antes de tudo coletiva, representativa. Representa a vitória sobre tudo aquilo que num primeiro momento parecia determinante, mas que não foi. Ter nascido negro, pobre, sem condições de ter acesso á escola, numa região desprovida de condições econômicas capazes de garantir as condições mínimas de sobrevivência poderia ser para muitos o indicativo de um destino também pobre e marginal.
No entanto, não foi. Guerreiro soube como mudar isso, e tomou em suas mãos o destino de sua vida. Casou-se, construiu uma família, foi golpeado pelo destino com a perda de sua esposa ficando com filhos pequenos para criar, mas nem por isso se colocou-se numa posição de vítima e desistiu de viver. Reconstrói sua vida, construindo outra família e se reconstruindo também.
É com essa nova família que as relações se cruzam com a minha família, principalmente quando meus pais são convidados para serem padrinhos de Ana Cléia. Os laços afetivos são estreitados e nessa estreiteza, as famílias se tornaram mais próximas.
Guardo boas lembranças desses momentos de proximidade e afeto, das comemorações sempre tão cheias de vida, dos almoços, das festas de casamentos, dos aniversários, das comemorações de São João nas Areias, dos momentos em que a musica e a dança se tornam aglutinadores.
Como esquecer os almoços da semana santa? Como esquecer as recitações de “ pavão misterioso”, e a “chegada de lampião no inferno?” Como esquecer as farinhadas na Serra dos Bois ? Como esquecer as rodas de forró pé de serra ou as conversa na calçada debaixo do Flamboyan ?
Não se pode esquecer por que esses não são acontecimentos individuais, e uma vez partilhados também por nós se constituem parte da nossa história.  Por isso falei no início que a história do Guerreiro não era uma história individual e que essa data especial para ele, também é para nós.
Especial também é poder comemorar nesse jubileu festivo o natalício de minha querida  amiga Adalzira, ( Zazá ) a quem  a amizade me é muito cara e valiosa. Conheci Zazá há pouco tempo, mas sempre ouvia falar nela, como uma das grandes educadoras do nosso município e que junto com Dona Lenita eram as responsáveis pela organização do Movimento Cultura de Aiuaba.
Em 2002 estava escrevendo um trabalho na universidade sobre o processo de construção do município de Aiuaba e não encontrava fontes suficientes. Conversando com a Adaíza, que na época fazia o curso de História ela me sugeriu que escrevesse para Zazá contando meu intento, pois se ela tivesse algum material com certeza me enviaria.
Escrevi então para Zazá e prontamente fui atendido. Sua carta, que até hoje guardo, me orientava sobre quem e o que procurar para concretizar meu trabalho.
Por conta dessa primeira carta, fomos nos correspondendo e descobrindo interesses intelectuais muitos próximos, amigos em comum, pessoas que compartilhavam dos mesmo ideais. Através da Zazá fiz novos amigos, conheci a Mariinha Alencar, o Rafael Pereira, Orleans.
Passei além de amigo a ser um divulgador de seu trabalho (que infelizmente ainda é pouco reconhecido e valorizado em nossa cidade). Tive o prazer de conseguir a indicação e aprovação de seu nome para a Academia Tauaense de Letras na qual é membro efetivo. Fato esse pouco conhecido, mas de grande valor para os que compartilha com ela dessa tão grande vitória.
Ter em vida o reconhecimento de seu trabalho é sinal de que,  as lutas pela mudança das condições históricas e sociais não foram em vão e que o esforço de educar, mesmo que de maneira incipiente, gera frutos doces e afáveis.
 Zazá é uma folclorista de primeira categoria, intelectual que soube reconhecer na sua história e na história de seu povo pontos em comum que devem ser valorizados. Seus livros que trabalham na perspectiva das narrativas de vida e da história oral dá voz a todos aqueles que por não serem da classe dominante de um determinado município tem as suas histórias silenciadas.
Zazá conta causos, narra fatos, traz para o centro do palco as estória infantis de sua cidade,  as brincadeira de seu tempos, os modos de ser das pessoas, as personalidades que fizeram história em Aiuaba de outros tempos e de que forma tudo isso a constituiu e a constitui como  mulher, mãe , professora, amiga, filha e tantos outros papeis que ela desempenhou e desempenha.
A lembrança que me vem da Zazá nesse momento é de uma pessoa alegre, afetuosa, gentil, acolhedora, religiosa, sempre colocando Deus em primeiro lugar nos seu plano. Uma pessoa que agrega e acolhe aqueles que estão ao seu redor.
Querida amiga, só colhemos o que plantamos e se colhes frutos doces e afáveis é por que soube cultivar e esperar o tempo certo da colheita. Oro a Deus para que derrame sobre você e sua família copiosa bênçãos hoje e sempre.
Gostaria muito de está ai com vocês nesse momento festivo, mas como não posso está  fisicamente, estarei em pensamento e  na lembrança.
Para encerrar faço minhas as palavras do poeta João Guimarães Rosa quando diz que:
(...) a lembrança da vida da gente se guarda em
 trecho  diversos; uns com os outros acho que
nem se misturam. Contar seguido, alinhavando,
só mesmo coisa de rasa importância.
... Tem horas antigas que ficaram mais
Perto da gente do que outras de recente data.

Com afeto,

Laurinho,
Campinas- SP, 12 de outubro de 2012

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