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Este Blog é para expor publicações periódicas que contribuam para desenvolver atividades artísticas culturais e recreativas dentro de uma postura construtiva através da Pedagogia da Animação, ampliando diversos conceitos da qualidade total nas áreas de Recreação, Folclore, Literatura e Música. Produzindo conhecimentos interdisciplinares no aprimoramento da cidadania.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

COLISEU , CECILIA MEIRELES









Thomas Colle,  The Return, 1837


Um esboço de Da Vinci


Cecília Meireles

Coliseu
 


Cem mil pupilas houve:
— cem mil pupilas fitas na arena.
Os olhos do Imperador, dos patrícios,
dos soldados, da plebe.
 
Os olhos da mulher formosa que os poetas cantaram.
 
E os olhos da fera acossada,
do lado oposto.
Os olhos que ainda brilham fulvos,
agora, na eternidade igual de todos.
 
Cem mil pupilas:
— ilustres, insensatas, ferozes, melancólicas,
vagas, severas, lânguidas . . .
Cem mil pupilas vêem-se, na poeira da pedra deserta.
 
Entre corredores e escadas,
o cavo abismo do úmido subsolo
exala os soturnos prazeres da antiguidade:
 
Um vozeiro arcaico vem saindo da sombra,
— ó duras vozes romanas! —
um quente sangue vem golfando,
— ó negro sangue das feras!
um grande aroma cruel se arredonda nas curvas pedras.
— Ó surdo nome trêmulo da morte!
 
(Não cairão jamais estas paredes,
pregadas com este sangue e este rugido,
a garra tensa, a goela arqueada em vácuo,
as cordas do humano pasmo sobre o último estertor . . .)
 
Cem mil pupilas ficam aqui,
pregadas nas pedras do tempo,
manchadas de fogo e morte,
no fim do dia trágico,
depois daquela ávida e acesa coincidência
quando convergiram nesta arena de angústia,
que hoje é pó e silêncio,
esboroada solidão.
 
(As pregas dos vestidos deslizaram, frágeis.
E os sorrisos perderam-se, fúteis.
Sobre o enorme espetáculo, que foi o aroma dos cosméticos?

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