O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
Por onde escorre e se perde o sangue do Ceará
O mar não se tinge de vermelho
Porque o sangue do Ceará é azul...
Todo o plasma toda essa hemoglobina
Na sístole dos invernos vai perder-se no mar.
Há milênios... desde que se rompeu a túnica das rochas nas explosões dos cataclismos ou na erosão secular
do calcáreo
do gnaisse
do quartzo
da cilicia natural...
Quanto tempo perdido!
E o pobre doente- o Ceará anemiado
Esquelético, pedinte e desnutrido
- a vasta rede capilar a queimar-se na soalheira
é o gigante com a artéria aberta
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
Foi espada de um Deus que te feriu
a carótida, a ti - fênix do Brasil!
E o teu cérebro ainda pensa
E o teu coração ainda pulsa
E o teu pulmão ainda respira
E o teu braço ainda constrói
E o teu pé ainda emigra
E ainda povoa.
As células mirradas do Ceará
As células mirradas do Ceará
Entumecem o protoplasma
(como os seus capulhos de algodão)
E nucleiam-se de verde
-É a cromatina dos roçados do sertão...
(ah! Se ele alcançasse um coágulo de rocha!)
E o sangue a correr pela artéria do Rio Jaguaribe...
O sangue a correr mal que é chegado
Aos ventriculos das nascentes...
O sangue a correr e ninguém o estanca...
Homens da Pátria - ouvi:
- Salvai o Ceará!
Quem é o Presidente da Rública?
Depressa:
Uma pinça hemóstática em Orós!
Homens!
O Ceará está morrendo, está esvaindo-se em sangue...
Ninguém o escuta, ninguém o escuta
E o gigante dobra a cabeça sobre o peito enorme,
E o gigante curva os joelhos
no pó da terra calcinada
e nos últimos arrancos - vai
morrendo e resistindo...
morrendo e resistindo...
morrendo e resistindo...
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