Desde criança venho perseguido
por um destino sem contemplação:
para dormir eu encontrei a rua,
nada cobriu minha pele nua,
para comer fui mendigaro pão.
Assim cresci em minha muda espera,
na obsessão de um dia me vingar
do sentimento que meus pais negaram,
do abandono o que me condenaram
não tendo tempo nem para me amar.
Tornei-me salteador...
Parava, ás vezes, mudo, pensativo,
no ermo perdido,fraco, incapaz;
olhando um céu e desejando um fim:
- Porr que Jeová, Tu me fizeste assim,
por que nasci um imundo Barrabás?
Até que um dia (pois há sempre um dia
no destino bom ou mau de cada um )
ouvi de um Homem vindo da Judéia
que milagres houvera lá na Galiléia
que mortos reviveram em Cafarnaum.
E pergunta que havia em meu peito
fez-se maior.E, sem poder conter
o desejo de ver o tal Messias,
que a mensagem nova nos trazia,
sai, buscando-o, e me deixei prender.
Dias depois, na solidão da cela,
um soldado irônico me chama:
- Vem Barrabás, que amanhã é Páscoa
vem sentir como o povo te ama...
Sigo tremendo...
De Pilatos a voz estranha, horrivel,
abafa a algazrra enlouquecida:
A quem agoradesejas soltar,
o vosso Rei, que vos quer libertar,
ou Barrabás, que temroubado vidas?
E a multidão satânica delira
- Aí falso Rei, tu não escaparás!
Foi sacrilégio o que fizeste aqui
dizer-te Rei do trono de Davi.
Na cruz o Cristo! Solta Barrabás!
E só então o homem condenado
volta os olhos para me encarar.
Por que me olha assim com tal doçura?
Descem-me a cruz , a forca e a tontura,
mas nunca a força e o amor daquele olhar.
E vejo o Mestre receber vinagre
Em meio a revoltante zombaria
vejo sua carne pálida rasgada,
sua cabeça de espinho coroada
e " os soluçosimensos de Maria".
E eu salteador que o povo ainda temia
(que pelos meus atos merecia a cruz,)
suplicando dirijo-me a Maria
- Responda-me: quem é este Jesus?
E Madalena, quase num soluço:
-É o Cristo. É Deus, portador da paz.
Por nosso amor abandonou o céu
Era um Cordeiro, transformou-se em réu
morre em lugar do imundo Barrabás.
E vi então, a própria natureza
mergulhar em trevas enquanto Jesus,
clamando: "Está consumado".
morria para que eu fosse libertado,
sobre uma cruz -mimha própria cruz...
Assim cantaria Barrabás o seu poema,
se a história o quisesse contar
E tu que tens ouvido
há tanto tempo, porém não tens crido,
que o próprio Deus morreu em teu lugar?
Chamas mausos que mataram Cristo;
mas podes tu viver em paz?
Mataram Cristo os teus desatinos
és também um louco assassino:
- Diante de Deus tu és Barrabás.
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